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Até já!
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31.10.17

adeus outubro


...e adeus blogue.

A vida exige-nos decisões e a verdade é que a [im]perfect está a crescer mais e mais rapidamente que alguma vez eu poderia imaginar. O Natal está a chegar e as encomendas aumentaram bastante, os produtos são laboriosos, levam tempo e dedicação e é com alguma nostalgia que me vejo forçada a hibernar o meu blogue. Muita coisa irá mudar nos próximos meses, tenho muitos projectos que quero concretizar e que envolvem a [im]perfect. Às vezes temos de abrir mão de coisas que gostamos por outras que foram criadas como complemento e acabaram por se tornar as principais.
Isto tudo ainda é muito estranho para mim, um novo mundo se está a abrir e eu, sem pensar muito, arregaço as mangas e meto mãos à obra.

Outubro foi um mês de extremos, começou muito mal mas está a ter um final surpreendente. Se vou ter saudades disto? Vou, muitas. Tenho em mim a esperança de conseguir um dia retomar este espaço, mesmo que de uma forma menos constante mais liberal e talvez ainda mais pessoal. Não sei, neste momento tudo é muito incerto, talvez volte depois do Natal, para o ano, talvez não... não sei. Vou-me deixando levar pela corrente da vida esperando que ela me vá conduzindo pelos melhores caminhos, aqueles que vão unir a minha vontade e o meu coração à parte mais racional de mim.

Que Novembro seja cheio de sonhos e que vocês nunca deixem de lutar por eles ♥

Até breve!

NOTA: o desafio palavras [quase] perfeitas continua no blogue da Matilde: Cantinho da Tily com o lançamento da nova palavra já amanhã, não deixes de participar ;)

30.10.17

monday mood

reluz! Reluz por dentro, por fora, pela vida, pelos teus e principalmente por ti. Ninguém consegue viver para sempre na escuridão ♥ 

Boa semana!

28.10.17

querida L.

Há seis anos "corria" com o coração apertado para o bloco operatório para te ver nascer. Não foi o parto que sonhei nem o melhor lugar para te fazer vir ao mundo mas mesmo assim tu encheste-nos de lágrimas ao primeiro gemido. Nunca viverei nada de mais maravilhoso do que aquele delicado e arrepiante momento em que saiste de mim. De repente tu ficaste ainda mais real e eras/foste o bebé mais lindo que até hoje vi. Tinhas uma enorme alegria dentro de ti que se reflectia numa imensa energia que nos esgotava. Foste osso duro de roer mas deste-nos as maiores lições de parentalidade que podiamos pedir. Contigo aprendi que não há livros que nos preparem para a maternidade, nem conselhos, nem exemplos que funcionem duas vezes da mesma maneira. Aprendi que cada bebé é um ser unico e não nos resta mais do que aprender a gerir essa unicidade com inteligencia e sensibilidade. Sobrevivemos e vamos dando o nosso melhor na tentativa de que o mundo não te estrague nem diminua.


És dos seres mais criativos que conheço e do nada fazes tudo, de uma letra fazes uma estória, de um risco fazes um desenho, de um pau fazes uma brincadeira. Vês o positivo no negativo, olhas os outros com benevolencia, ofereces ajuda, cuidas e mostras maturidade na forma como enfrentas cada desafio com toda a naturalidade e confiança do mundo.

Minimizas e esqueces as minhas brigas e exigências, os "nãos" e os pequenos castigos. És o meu braço direito, o meu ombro nos dias piores e a minha menina calma e corajosa quando percebes que algo não está bem. Nunca percas essa sensibilidade para os outros, essa empatia que o mundo precisa tanto. Tenho um orgulho imenso em ser tua mãe, obrigada por seres minha filha ♥

Parabéns meu amor, hoje (e sempre) é o teu dia.

26.10.17

catcalling [imperfeições alheias]

Catcalling happens to most women between the ages of 11 and 17.
The largest study of its kind has shown that 84 per cent of women, across 22 countries, are experiencing street harassment before the age of 17 - and that figure is even higher in Britain, about 90 per cent of women under aged.” (in The Telegraph, May 2015)

Ser mulher não é fácil num mundo onde ainda hoje, em pleno século XXI, a maioria das sociedades são patriarcais, machistas, regadas por ideias ancestrais e religiosas de que a mulher é inferior ao seu par masculino e lhe deve obediência, respeito e vassalagem. Ser mulher não é simples em nenhum país, mesmo no continente europeu dito mais civilizado, não é tarefa fácil viver rodeada de estereótipos sociais e económicos que julgam o sexo feminino frágil, emotivo, bipolar, dado a histerismos e ainda por cima pouco fiável em cargos de chefia ( a tal “coisa” da maternidade que as ausenta do laboral intento).
E ser mulher jovem é ainda mais complexo quando os ditos protectores são os agressores, os que diminuem a importância extrema de uma adolescência confortável, segura, genuína e sem influências nefastas de uma sociedade cada dia mais egoísta, violenta e xenófoba.

Hoje falo-vos de um fenómeno crescente nas sociedades, nas grandes metrópoles europeias e americanas, onde o assédio sexual verbal é constante e causa em muitas mulheres não só desconforto como inclusive problemas psicológicos e de autoestima. Relembrem-se de todas as vezes que passeavam na rua, seguiam de metro ou autocarro, estavam num café sozinhas ou num banco de jardim e um qualquer idiota vos interrompia o pensamento com palavras impróprias, “elogios” sexuais ao vosso corpo, rosto ou maneira de andar, lembrem-se de alguns serem ainda mais abusados e apalparem-vos ou seguirem-vos alguns metros a sussurrar propostas indecentes ou pedirem-vos um contacto, e tudo com o ar mais natural de quem acha que apenas está a elogiar uma cara bonita…(é o que muitos pensam!)
O fenómeno internacional conhecido pela expressão catcalling não é recente mas nos últimos dois anos tem sido mais discutido no seio das políticas internas dos países mais afectados por este tipo de assédio sexual às mulheres, as organizações dos direitos humanos e ONG de apoio e proteção à Mulher têm denunciado inúmeros casos e o que este tipo de atitudes pode causar no desenvolver saudável da feminilidade. É urgente que os governos alterem leis e que se comece a relacionar este tipo de assédio com o que é já punido por lei no seio do mundo laboral.
Andar na rua, usar transportes públicos, disfrutar de parques para caminhar, conviver numa esplanada, visitar museus, sorrir em público, caminhar alegre ou de rosto velado não pode nem deve ser motivo para ouvir impropérios de homens que se julgam no direito de tentar a sorte de ter sexo com uma rapariga/mulher, porque o acto de catcalling não é mais que a tentativa velada de ter um encontro sexual imediato.

Here's something that shouldn't be a secret: guys catcall because they think it will somehow lead to them having sex. I've never once seen it be successful, but guys keep doing it, and that's the reason. But that's what's really going on, and the guys doing it don't care if it's disrespectful.
Of course it's disrespectful! Many girls complain about it yet it keeps happening. If it was meant respectfully, then as soon as women started talking about how it made them uncomfortable, it would've stopped.” (by Michael Hollan, Blogger, in Your Tango Jan.2017)

Mas para além dos homens continuarem a achar normais os ditos “piropos”, de os fazerem descaradamente e sem respeito e insidirem os mesmos em raparigas jovens, muito mais que em mulheres a partir dos 30 anos, o problema ultrapassa a questão dos géneros e reflecte-se em sociedades inteiras que não protegem o sexo feminino, que não ensinam nas escolas o respeito mútuo, que continuam a premiar os homens com cargos de superioridade hierárquica, que instigam ao banalizar de situações desconfortáveis e recorrentes sobre as mulheres. E é ainda mais incompreensível quando lemos nas redes sociais, nas colunas de opinião, em blogs, as opiniões de mulheres a favor dos catcallers; quando a jovem americana Shoshana Roberts publicou no Youtube um vídeo onde é assediada 108 vezes durante um percurso de 10 horas pelas ruas de Nova Iorque, o que mais me impressionou foram os comentários femininos sobre a roupa usada por ela (umas simples calças pretas e t-shirt preta), que ela já devia estar à espera dos ditos “piropos”, que deveria até sentir-se elogiada, que não é nada de especial ir na rua a ouvir desconhecidos proferir uma enxurrada de palavras de cariz sexual, pornográfico, desconfortável e sem lhe ser pedida qualquer opinião.

Sabemos que os homens são educados também por mulheres e estas deveriam ser as primeiras figuras a impor a necessidade de seus filhos respeitarem o sexo feminino, a serem cavalheiros, a saberem partilhar tarefas laborais e familiares, a terem consciência de que homem e mulher são mais parecidos que diferentes e ambos devem ser equitativamente merecedores das mesma oportunidades.
Já não estamos perante apenas questões de justiça salarial, de oportunidades de carreira iguais, de obter cargos de chefias por merecimento e não por género sexual, de não serem necessárias quotas, de se sexualizar a mulher na publicidade; estamos numa era em que é cada dia mais importante ensinar de raiz os valores de igualdade, de fraternidade, de amor, de respeito, de partilha, de dar às mulheres os devidos direitos enquanto cidadãs de sociedades pluralistas e avançadas, de transmitir a filhos e netos o valor humano e não o valor de se ser homem ou mulher ou nem homem nem mulher (outra questão para futuro debate).

O fenómeno do assédio sexual verbal não é recente, foi sendo tratado com leveza e como “coisa” própria de ser homem e pensar em sexo, foi-se relevando e as mulheres foram guardando para si o desconforto; mas nos últimos anos o fenómeno tem crescido, tem sido discutido nas redes sociais, tem sido objecto de queixas por parte de adolescentes e mulheres que já não têm sobre si o espectro de ter de “comer e calar”. E é preocupante perceber que este assédio se intensifica em países desenvolvidos, onde há mais abertura política e social para combater o machismo, a violência doméstica, a agressividade perante a mulher e onde a religião não é aparentemente tão restritiva e fanatizada, é inquietante perceber que a maioria dos catcallers se centram em adolescentes que pelo teor da idade “complicada” já se encontram mais vulneráveis a sentirem-se desajudadas, desajustadas, expostas, a sofrerem de problemas de autoestima fraca e a não verbalizarem os seus temores e as suas estórias de assédio.
 É fácil escolher vítimas mais permeáveis e do catcalling à pedofilia e ao tráfico sexual vai um passo mais pequeno do que se possa pensar. Urge que todos saibamos destes fenómenos, que usemos todas as maneiras de os enfrentar e dissuadir, que sejamos protectores e não predadores, que exijamos leis adequadas e postas em prática, que ensinemos aos nossos homens que só com igualdade e respeito entre sexos se deve fundar uma sociedade, um mundo melhor.

Ser-se mulher não pode significar ser-se alvo indiscriminado de ideias deturpadas, de comportamentos impróprios, de violação de direitos básicos, de premissas ditadas por uma qualquer religião ou partido político; ser-se mulher deve significar apenas ser-se humano e respeitado como tal.